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O que te toca?

 

Eu queria que foto tivesse cheiro. Cheiro, sim. Hoje tive uma experiência marcante e como só posso compartilhar, além das minhas breves palavras, algumas fotos, queria mais recursos para que, ao menos, você pudesse sentir o cheiro que eu senti.

É chocante ver como um número sem fim de pessoas vivem à beira da miséria bem ao lado da nossa estúpida boçalidade.

É triste ver tanta gente vivendo de casca, arcando com luxos impensáveis, inviáveis, inexplicáveis. Sobram carros, polegadas, brilhantes. Falta bom-senso, sensibilidade, empatia.

Enquanto alguns grupos sociais compartilham muros, grades e paredes coloridas guardadas por cercas elétricas, ali, bem no bairro ao lado, algumas pessoas compartilham esgoto a céu aberto, lixo e mau cheiro.

O péssimo acesso aos casebres é realizado através de caminhos estreitos, de chão de barro, escorregadios e cercados por construções improvisadas que gritam por socorro sem nenhum tipo de planejamento.

Posicionei-me cuidadosamente em busca do melhor ângulo, aquele que coubesse a maior dose de realidade, para fotografar uma cena de cortar o coração. Na composição do meu enquadramento há um córrego que leva consigo tanta sujeira que os sentidos reagem. Visão e olfato juntos concluem que é impossível permitir o tato. Infelizmente a população local parece acostumada. Já não se espanta, aquilo já não parece incomodar.

A natureza geme. O riacho corre dilacerando o que um dia foi chamado meio ambiente. Ele figura entre casas e, à sua margem, disputam o lixo pequenos animais indefesos, brincam crianças inocentes.

Uma das meninas que passa por ali vê que eu estou concentrada e me importo muito em registrar a degradante paisagem. A pequenina clama por atenção: “Tia, não tire foto do esgoto não, olha eu aqui!” e posa para minha câmera dando-me uma verdadeira lição. É como se aquele clique fosse capaz de alimentar algum tipo de transformação. Outros vêm, juntam-se. Suplicam pela sua vez. Brotam, surpreendentemente sem esforços, sorrisos de um terreno fétido, estéril e seco.

Quando encerro a sessão de fotos e dou sinais da partida, as mãozinhas se agitam freneticamente e as bocas possivelmente famintas soltam algumas frases me fazendo acreditar que em meio a toda aquela miséria a esperança ainda não morreu.

 

 

Calabetão, periferia de Salvador, Bahia, Brasil.

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