Taiene Almeida dos Santos, 18 anos, é uma menina muito determinada. Moradora do bairro de Santa Cruz, na periferia de Salvador, ela e sua irmã gêmea Taiane, foram criadas pelo pai. Natural de Ipiaú, interior baiano, hoje ele tem 73 anos e está completamente cego, doença que o acompanha desde a juventude de maneira mais branda. Em casa, conviveram também com a tia e a avó que foi o grande referencial materno. As meninas ainda sentem a dor da perda da avó, que faleceu em 2008, a quem chamavam de mãe.
A instituição Cristo é Vida faz parte da história de Taiene desde os cinco anos de idade, quando começou na escolinha. Ao longo do tempo, ela passou a aproveitar as atividades culturais oferecidas, como o curso de teatro. “Sentia segurança quando estava apresentando”, lembra a menina que se considera bastante tímida e garante que o teatro a ajudou muito. E ela não parou por aí. Em 2010, ela participou do curso profissionalizante de operador de micro, oferecido pela Cidade Mãe. Essa foi a porta para ela conseguir um estágio como auxiliar administrativa na Superintendência de Controle e Ordenamento do Uso do Solo do Município – SUCOM, um órgão público, com contrato de dois anos de duração. “Minha família sempre me incentivou a fazer os cursos. O estímulo para a educação vem desde o berço”, lembra a jovem.
A instituição foi, então, a responsável por oferecer os caminhos. “Não existe libertar-se sem educar-se. A liberdade do homem se dá pela educação”, esse pensamento destacado por Jaciara Conceição, responsável há sete anos pelo espaço educativo, norteia e dá forças para a continuidade do trabalho realizado na Cristo é Vida. “Procuramos ofertar um ensino de qualidade, realizando a formação da cidadania”, explica Jaciara que conta com uma equipe capacitada, incluindo assistentes sociais e psico-pedagogas.
Recentemente, Taiane recebeu uma ótima notícia, fruto do seu esforço. Ela foi aprovada na Faculdade da Cidade e recebeu meia bolsa para estudar administração. Seu objetivo futuro é atuar na área do serviço social. “A instituição ofereceu e ela aproveitou. Agora é exemplo para os outros de que pode dar certo”, afirma Jaciara, revelando seu desejo que muitos outros jovens conquistassem novos horizontes.
“É, ao mesmo tempo um desafio e uma vitória. O meu maior sonho já está começando: ir para a faculdade”, e Taiene enumera ainda um carro e uma casa própria na sua lista de desejos. “Pretendo morar sozinha!”, idealiza a independência sem esquecer que outra ambição é poder ajudar o próximo, seguindo os ensinamentos de solidariedade tão cultivados por sua avó.
Com tristeza nos olhos, Taiene revela suas angústias e um pouco do que acontece no lugar onde foi criada: “Muitos dos meninos que eu conheci no bairro quando era pequena já se foram porque se envolveram com drogas. Outros não podem continuar aqui, pois estão jurados de morte. Até as meninas estão morrendo”. Daí a importância que existam espaços educativos nas periferias da cidade, dispostos a preencher o tempo ocioso de crianças, adolescentes e jovens com atividades que contribuam para a sua formação humana. “Se eu não tivesse ido para a Cristo é Vida eu não seria nada, essa foi a base para me tornar o que sou hoje”, afirma Taiene.
Quando fala dos padrinhos italianos do Progetto Agata Smeralda ela explica que “isso significa amor ao próximo”, e se encanta com o gesto de ajudar alguém que sequer conhece.